Quando alguém vê algo de estranho é impossível não olhar, é impossível não querer saber mais. Quando encontrei um Citroen GS à venda num site de classificados, fiquei intrigado com as suas formas. Decidi ir ver à Wikipedia o que dizia sobre ele. Uma olhada nos motores disponíveis neste modelo e quase que me caia o queixo quando li "2x497.5cc Wankel Engine". Juntando isto à suspensão hidropneumática e veio-me à cabeça: "Este deve ser o carro mais estranho alguma vez produzido no mundo".
É tudo tão exótico! O design, o motor a suspensão... Isto era o Twilight Zone dos carros nos anos 70. Era a fusão de todas as novidades tecnológicas que prometiam um futuro melhor. Era o progresso!
O Citroen GS era o carro de média gama da Citroen, pois antes deste modelo só existiam carros para os ricos e para os pobres. Lançado em 1970, este carro tinha um design muito diferente de tudo o que existia. A sua forma, fazia dele, o carro de produção com melhor coeficiente aerodinâmico no mundo. E isto era absolutamente necessário, pois um dos grandes problemas do GS era ter pouco motor para o carro que era. No início podíamos contar com motores de 4 cilindros a debitar cerca de 55cv, mais tarde foi lançado um motor de 1222cc que contava com 60cv e no final foi lançado outro motor de 1299cc com 66cv de potência. Estes motores conseguiam levar penosamente o Citroen GS dos 0-100km/h em menos 3 meses e 2 semanas (na verdade eram 18 seg).
No entanto, foi em 1973 que o Citroen GS recebeu o motor que merecia. Eram dois rotores Wankel produzidos e desenvolvidos pela Citroen e pela NSU. Tinha 107 cv de potência e já conseguia levar o Citroen GS aos 100km/h em 13 segundos e a velocidade máxima era de 175km/h. Para além disso este motor casava muito bem com a suspensão hidropneumática. É que esta suspensão era luxuosa, parecia que estávamos em cima de um tapete mágico, e a aceleração deste motor Wankel também era suave e gentil. Isto era um verdadeiro mimo de se conduzir e era um dos carros com melhor comportamento em estrada que o mundo alguma vez tinha visto.
Infelizmente este carro teve um final trágico. É que este Birotor não era barato e com alguns extras, ficava ao preço do DS, ou seja, ficava ao preço de um carro de segmento superior. Para além disso era completamente bêbado e tragava litros e litros de gasolina. Houve um jornalista que reportou médias em cidade de 26 litros aos 100km! Já para não falar do litro de óleo que o carro gastava em cada 1000km. Isto combinado com a crise do petróleo dos anos 70 fez com que o interesse por este carro fosse praticamente nulo. Só 873 unidades é que foram vendidas e quando a Citroen viu que estes motores tinham problemas de fiabilidade, mandou destruir todos os GS Birotor que tinham em stock e tentou comprar aos seus clientes o maior número possível de Birotores para também serem destruídos. Não se sabe ao certo quantos é que sobreviveram, mas acreditem que existem poucos carros destes no mundo.
Este falhanço e outros colocou a Citroen em risco de fechar e foi então que a Peugeot tomou controlo da empresa.
O Citroen GS Birotor era um carro incrível, sim era uma porcaria, mas era uma porcaria incrível que faria qualquer entusiasta afogar-se na sua própria baba. É um carro magnífico, é um carro muito bom numa série de coisas, mas infelizmente, também era muito mau noutras. Era um carro humano, tinha as suas qualidades, muito boas qualidades, mas depois também tinha os seus defeitos. Aos que compraram um GS Birotor e não o devolveram à Citroen, um grande aplauso, pois de outra forma, não íamos conseguir ouvir este ninho de vespas a zumbir pelas estradas fora. Que som épico!
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