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A experiência de comprar um automóvel usado em 2023 não é má, é horrível


Já não é a primeira vez que me aventuro a escrever um artigo deste tipo e, em Fevereiro de 2022, relatei algumas experiências terríveis que tive com vários stands. Naquela época, mal sabia eu que, quatro meses depois, ia comprar um carro num stand muito famoso, a Matrizauto... e foi a pior experiência de compra de um veículo em toda a minha vida. Foi uma sucessão de frustrações, incompetência e dor... Uma verdadeira montanha-russa de problemas que me deixou tão traumatizado que precisei de vários meses para recuperar e conseguir falar sobre isso sem sentir enjoos.

Tudo o que aconteceu foi na Matrizauto de Leiria. Não posso dizer como são nas outras filiais desta marca, mas fiquei com a sensação de que se a Matrizauto tratasse todos os clientes como fizeram comigo em Leiria, provavelmente já tinham fechado portas.

No início, tudo parecia correr bem. Encontrei um carro elétrico com um bom preço e 3 anos de garantia. O atendimento foi mediocre, o vendedor não tinha experiência nem jeito para lidar com o cliente, houve desde o início relutância em informar quais eram as taxas de juros. Depois de muita hesitação e fintas, só descobri a taxa quando chegou a hora de assinar o contrato, o que me deixou em um dilema. A falta de transparência nesse processo logo começou a me deixar desconfiado e bastante nervoso.
Sempre que expressava alguma preocupação para com o carro, em termos do estado da bateria, dos extras, etc. O vendedor a certo ponto disse-me: "Não gosto da sua desconfiança, eu tenho muito mais pessoas a quem vender este carro." Este tipo de resposta deixou-me fulo e a um passo de cancelar o negócio. 
"Oh desculpe, por estar a fazer o meu trabalho, não sei como é com os outros clientes da Matrizauto, mas eu faço sempre as diligências necessárias antes de gastar uma fortuna num carro."
Outro ponto em que o vendedor falhou foi na promessa de entregar os tapetes originais do carro. Quando me mostraram o veículo, notei que não havia tapetes e disse que queria os originais da DS. Eles disseram que sim, mas nunca cumpriram essa promessa, e até hoje não os recebi.

Ah, não sei, mas na Matrizauto devem fazer mentorias especiais em como deixar os clientes frustrados.

Quando finalmente entregaram o carro, o vendedor informou que ele tinha passado pela Citroen (Sacel-Leiria) para uma revisão. Olhei para o papel e não havia nada escrito, mas como o carro era considerado "zero quilómetro", pensei que eles tivessem verificado e constatado que estava tudo bem. (Naquela época, eu não sabia que apenas as concessionárias da DS Automobiles estavam autorizadas a mexer em carros elétricos da marca).

No entanto, logo nos primeiros quilómetros, percebi que algo estava errado com o carro. A autonomia não correspondia nem de perto ao que era esperado, o modo B (com regeneração mais forte) não funcionava e, para piorar, quando cheguei em casa, o carro nem sequer carregava. Depois de algumas tentativas, o carro começou a apresentar problemas com a chave inteligente e até ativou o alarme. Portanto, neste momento tirei duas conclusões óbvias e chocantes.

1º Mentiram-me relativamente a ter sido efectuada a revisão do carro.
2º A Matrizauto não testa os carros antes de os entregar ao cliente. Nem sequer o testaram quando o adquiriram (era um carro importado).

É uma maneira estranha de fazer negócio, principalmente em stands de automóveis usado, mas a Matrizauto tem uma abordagem bem peculiar em relação aos carros que vendem. Segundo eles mesmos, "nós só vendemos automóveis e só existimos para vender automóveis." Ou seja, eles não fazem nenhum teste nos carros que recebem antes de colocá-los à venda. Se o carro apresentar algum problema quando entregue ao cliente... bem, azar do cliente. Ele terá que lidar com a NSA (uma entidade que vende garantias) porque a Matrizauto não possui oficinas de reparação próprias. Eles terão que encaminhar o carro para oficinas com as quais têm acordo com a NSA.

Se isto tudo vos está a parecer um pesadelo, é porque é mesmo. Parece que a Matrizauto está mais interessada em empurrar carros para fora do stand do que em garantir a qualidade e a satisfação do cliente. É um pouco preocupante confiar numa marca que adota essa postura.
Isto fez com que eu tivesse de devolver o carro à Matrizauto onde o carro foi levado à marca DS Automobiles em Coimbra para ser feito um checkup e ver o que se passava.

Entretanto volto a andar com o carro que dei de retoma enquanto reparavam a viatura que tinha comprado. Prometeram que o carro era devolvido numa data específica que falharam redondamente e nessa altura já estava a ficar fulo com a falta de precisão nas datas e na acumulação de promessas que não eram cumpridas.

Também não me posso esquecer de referir que devido a atrasos de pagamento da Matrizauto na financiadora do carro que dei à troca fez com que a certo ponto, a Matrizauto estivesse a dever-me cerca de 200 euros. Depois de muitas respostas do vendedor a dizer que o dinheiro ia ser transferido na próxima semana, só em Novembro de 2022, ou seja passados 4 meses, é que vi o valor a ser restituído e isto depois de falar com uma das altas patentes dentro do grupo Matrizauto.

A este ponto, já posso dizer que tenho conteúdo suficiente para fazer uma bela de uma telenovela mexicana, mas ainda tenho mais episódios!

Lá recebi o carro e desta vez já estava tudo a funcionar, excepto a autonomia da bateria do carro que apresentava valores ainda demasiado baixos. 270 km de autonomia com carga a 100%. Dizia o vendedor que com o tempo ele ia restabelecer a autonomia. A minha percepção é que algo estava errado com a bateria... e o tempo passava e a maldita autonomia continuava abaixo dos 280 km. Ao mesmo tempo outro problema bastante simples e estúpido começou a desenvolver-se e foi a 2ª chave do carro que ainda não tinha sido entregue. Depois de muito pedir, depois de muitos telefonemas depois de muita irritação, depois da chave ter parado a filiais da Matrizauto erradas, passado 2 meses é que recebi a chave... E foi nesta altura que desastre se abateu sobre mim... Uma mensagem sinistra no carro que dizia: falha no propulsor elétrico, levei o carro à marca ao abrigo da garantia e lá estava... Bateria de tração tinha de ser substituída. 6 meses à espera da peça. Carro de substituição? Sim tinha, mas a gasolina. 

A batalha épica começou quando tentei conseguir um carro elétrico de substituição, o que deveria ser padrão para quem compra um carro elétrico, não é verdade? Quer dizer, acho que é o mínimo! Tive que enfrentar uma maratona de ligações telefónicas e entender-me com uma panóplia de entidades, incluindo a NSA (não, não é a agência de espionagem), aluguer de carro e oficinas. Parecia que eu tinha me tornado o herói de uma história de ação automotiva, onde o cliente é atirado numa máquina gigantesca e complexa de burocracia e dor e é forçado a resolver tudo por conta própria. A pouco e pouco o vendedor deixou de me falar, a filial de Leiria da Matrizauto deixou de responder e eu a ver-me aflito com todos estes problemas. Felizmente, consegui levar as coisas a bom porto, mas não graças à Matrizauto.

Agora, olhando para trás, posso dizer que fui vítima de um azar fenomenal. Acho que dei de cara com o vendedor mais atrapalhado, na filial mais problemática, com o carro mais peculiar. É um verdadeiro aviso para todos aqueles que pensam que estão seguros ao comprar em stands conhecidos. Acreditem, que até tomando todas as precauções, podem encontrar-se no meio de uma verdadeira casa de horrores, em que a casa é um stand de automóveis.

P.S: História extra!


Por falar em pesadelos, tenho outro bem fresquinho para contar que aconteceu a um amigo meu. Este resolveu adquirir um carrinho importado em segunda mão a um stand (não era a Matrizauto). Estava tudo muito bem até ao dia em que a polícia lhe bate à porta a dizer que o carro tinha sido roubado na Alemanha e que o veículo tinha de ser imobilizado. E imobilizado ficou durante 6 meses. Conseguem imaginar o que é comprar um carro que precisam de usar para ir para o trabalho e este ter de ficar imobilizado durante 6 meses? E isto sem qualquer apoio do stand, sem qualquer carro de substituição?
Mas, calma, a história tem um final feliz. O stand responsável, vendo que a batata quente estava nas suas mãos, ofereceu ao meu amigo o valor comercial do carro. No final de contas, tudo se resolveu, mas conseguem imaginar os nervos que essa situação causou? É o tipo de coisa que faz a gente pensar duas vezes antes de comprar um carro em segunda mão. Afinal, nunca se sabe quais segredos ele esconde!

São histórias de horror e são histórias que podem acontecer a qualquer um de nós. Num mundo em que os stands querem puxar a ideia de vender carros sem os clientes os testarem nem os verem, este tipo de ideia deixa-me no mínimo nervoso e com receio do futuro. Se a experiência de compra de um carro usado ficar cada vez pior, entretanto, mais vale comprar um carro pior, mas novo, do que ficar sujeito a estas experiências de levar os nervos ao limite. Gosto muito de carros, mas gosto muito mais de estar tranquilo.



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