Nessa lista de 2022 coloquei tantos carros que, neste momento, é complicado recomendar outros modelos com potencial de valorização. Este exercício está cada vez mais difícil: as marcas têm vindo a abandonar os automóveis pensados para entusiastas, sobretudo aqueles que estão ao alcance dos comuns mortais.
É evidente que, com o passar do tempo, surgem cada vez menos carros desportivos ou colecionáveis, o que torna ainda mais desafiante encontrar propostas interessantes com verdadeiro potencial de valorização.
Há 10 anos estávamos em 2015 — e, desde então, apenas alguns (poucos) carros me chamaram a atenção como possíveis gemas para guardar na garagem. Modelos que, talvez daqui a 10 anos, possam valer mais do que custam hoje.
O BMW i8 foi, acima de tudo, uma montra tecnológica da BMW para o mundo.
Para mim, é um dos carros mais inovadores e interessantes da última década. Para muitos outros, no entanto, foi um modelo demasiado conservador e pouco excitante para o preço pedido.
Quando foi lançado, o i8 custava cerca de 157.000€, valor difícil de justificar para um carro com um motor de três cilindros, 1.5 de cilindrada e um sistema híbrido. Apesar dos números respeitáveis (362 cv e 570 Nm de binário), não eram exatamente 157 mil euros de performance.
Além disso, o primeiro modelo nem era um bom híbrido — a bateria de apenas 7,1 kWh oferecia uma autonomia elétrica de 37 km. Em 2018, a BMW lançou um facelift com uma bateria maior (11,6 kWh), que aumentava a autonomia para 55 km e subia ligeiramente a potência para 374 cv. Foi também nessa altura que surgiu a versão cabrio — visualmente espetacular.
Passados 10 anos desde o seu lançamento, a depreciação do i8 foi, em parte, uma bênção. Ainda assim, continua a ter um preço algo elevado para a maioria: cerca de 60.000€ é o bilhete de entrada para este supercarro híbrido com que a BMW quis mostrar que o prazer de condução pode ser frugal, amigo do ambiente… e da carteira.
O design é incrível, o interior continua impressionante e a utilização de materiais como fibra de carbono permitiu um peso de apenas 1.485 kg. Acelera dos 0 aos 100 km/h em 4,4 segundos — valor que se manteve na versão facelift, apesar do ligeiro aumento de peso. A maior bateria trouxe também consumos mais eficientes.
É um carro que continua a fazer virar cabeças sempre que passa. É, literalmente, um concept car que escapou dos laboratórios da BMW. Por isso, acredito que daqui a 10 anos as pessoas ainda vão olhar para ele e perguntar se é um modelo novo — surpreendendo-se ao descobrir que, afinal, já tem mais de 20 anos.
Fiat 124 — O roadster italiano esquecido
Custa a crer que já passaram quase 10 anos desde o lançamento deste carro… mas aqui estamos. O Fiat 124 ainda não chegou bem ao fundo da sua curva de desvalorização, mas caminha para lá. Já é possível encontrar algumas unidades em segunda mão por cerca de 19.990€. Em contraste, a versão “mordida pelo escorpião” continua teimosamente acima dos 32.000 a 38.000€, mesmo com mais anos e quilómetros em cima.
Como muitos já sabem, o Fiat 124 foi produzido lado a lado com o Mazda MX-5 no Japão, partilhando vários componentes com o modelo japonês. Ainda assim, o design italiano do 124 está a envelhecer muito bem — e, com apenas 41.321 unidades produzidas (Fiat + Abarth), é um carro raro. Esteve apenas três anos no catálogo da Fiat. Em comparação, o MX-5 ND já vai para uma década de produção e conta com vendas muito superiores (só entre 2015 e 2018, o ND já tinha ultrapassado as 136.000 unidades vendidas).
O que torna o Fiat 124 interessante — além da produção reduzida — é o motor turbo, com mais disponibilidade em baixas rotações e mais potência do que o MX-5 com motor 1.5. O bloco 1.4 turbo da Fiat debita 140 cv e 240 Nm de binário, enquanto o ND 1.5 produz 132 cv e apenas 152 Nm. Em números: o Fiat faz os 0-100 km/h em 7,5 segundos, contra os 8,3 segundos do Mazda.
Tudo isto para dizer o seguinte: se procuram um carro com design italiano, tração traseira, caixa manual e um preço acessível, o Fiat 124 é praticamente a única opção no mercado. É um modelo diferente, que daqui a 10 anos vai fazer virar cabeças… e muito provavelmente, subir de preço.
Ford Mustang 2.3 EcoBoost — Meia dose ou oportunidade?
Não sei se vai valorizar… mas que é tentador, é.
O Ford Mustang 2.3 EcoBoost por volta dos 30.000€ é uma aposta sólida para quem quer um carro fora do comum. Para alguns, ter um Mustang com um motor de 4 cilindros é quase um insulto — como comprar meia dose em vez do prato completo. Mas os argumentos técnicos estão lá: 315 cv, 434 Nm de binário e 65 kg mais leve do que a versão V8.
Além disso, em termos fiscais, é muito mais fácil de manter do que o tradicional V8 5.0.
A devoção dos fãs pelo V8 contribuiu para uma desvalorização acentuada do EcoBoost. Mas isso pode ser precisamente a oportunidade ideal para agarrar um exemplar com excelentes prestações. Quem sabe se, daqui a 10 ou 20 anos, os números vão deixar de importar tanto e este Mustang de 4 cilindros começará a ser visto com outros olhos.
VW Golf GTI Mk7 — O último dos verdadeiros?
Tentar adivinhar que carros vão cair nas boas graças dos entusiastas e valorizar no futuro é sempre um exercício que mistura sorte com sabedoria. Um dos fatores que pode acelerar essa valorização é quando uma figura influente faz uma declaração marcante sobre determinado modelo.
Por vezes basta um post ou um vídeo para reacender o interesse da comunidade — e foi isso que me aconteceu. Chris Harris — ex-apresentador do Top Gear e um dos petrolheads mais respeitados da internet, escreveu uma verdadeira carta de amor ao Golf GTI Mk7, ao mesmo tempo que criticou duramente o rumo da indústria automóvel em 2025:
“Toda a gente devia conduzir um Golf GTI Mk7. Para olhar, conduzir, ser passageiro – na estrada e até em pista – é melhor do que qualquer carro ‘novo’ vagamente comparável que já conduzi. Que outra indústria, em 2025, oferece (porque a legislação obriga) um produto claramente pior do que aquilo que vendia há 10 anos? Tempos tristes.” — Chris Harris, Instagram
Depois de ler essa publicação, decidi refletir seriamente sobre o potencial do GTI Mk7.
A conclusão? A versão que provavelmente mais vai valorizar é a de 3 portas com caixa manual. Porquê? Porque já não é possível comprar um Golf GTI Mk8 com estas características.
E isso é uma pena para quem quer o modelo mais recente... mas uma oportunidade para quem guardou um Mk7 manual de 3 portas. É, literalmente, o último da sua espécie — e isso, para quem gosta de automóveis com alma, tem valor.
Daihatsu Copen — O mini roadster para quem acha o MX-5 grande
Se és daquelas pessoas que olha para um Mazda MX-5 e pensa: "quem me dera que houvesse uma versão mais pequena", então esta sugestão é para ti.
O Daihatsu Copen é um kei car que chegou à Europa com um pequeno motor turbo de 660 cc, mas que, mais tarde, passou a usar um 1.3 de 86 cavalos — super fiável e capaz de levar os 880 kg do carro dos 0 aos 100 km/h em apenas 9 segundos.
Sim, tem um defeito: é tração dianteira. Mas por outro lado, é um carro super divertido, compacto, económico… e foi produzido em pequenas quantidades, com montagem manual.
É daquelas coisas curiosas: no meio dos petrolheads, todos celebram e admiram os kei cars — dizem até que gostavam de os ver mais por cá. Mas quando finalmente chega um à Europa, ninguém compra.
Hoje, os Copen rondam os 9.000€, mas tendo em conta o volume reduzido de vendas e a sua originalidade, acredito que este pequeno grande carro vá subir de valor nos próximos anos.
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