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O Novo Estatuto dos Elétricos: De Luxo a Comodidade


Por vezes, faço algumas previsões sobre o futuro — não através de cartas de tarot ou búzios — mas com base no que observo na indústria automóvel e na dinâmica do mercado de carros usados. E aquilo que penso que poderá acontecer nos próximos 10 anos é simples: os elétricos vão tornar-se o carro da classe média e baixa, enquanto a classe alta e muito alta vai continuar a andar de híbridos plug-in ou até mesmo de carros totalmente a combustão.

Porquê, perguntam vocês?

1. Os carros elétricos vão ficar cada vez mais baratos

Atualmente, os elétricos são caros devido ao custo elevado das baterias — o lítio é um elemento escasso e dispendioso. No entanto, o preço médio das baterias de iões de lítio (por kWh) tem vindo a cair drasticamente. Em 2013, custava cerca de 780 dólares por kWh; em 2024, atingiu o mínimo histórico de 115 dólares.
[Fonte: Battery Tech]
Devido à simplicidade da construção de um carro elétrico (menos peças), tudo indica que o custo de fabrico será, em breve, inferior ao dos carros a combustão.

2. A chegada dos fabricantes chineses

As marcas chinesas estão a conquistar a Europa. São altamente competitivas, não só pelo custo de produção mais baixo (mão de obra mais barata e apoios estatais generosos), mas também pela tecnologia de ponta que oferecem.
Marcas como BYD, XPENG e NIO estão na vanguarda na área das baterias, condução autónoma e sistemas operativos.
Um consumidor com orçamento limitado vai, naturalmente, preferir um produto mais tecnológico e acessível — mesmo que não traga o prestígio de uma marca europeia.

3. O combustível vai continuar a encarecer

A combinação de políticas ambientais, desinvestimento das petrolíferas no petróleo, e os mecanismos de controlo da OPEP para manter os preços elevados faz com que o combustível barato seja coisa do passado.
Voltar a ver gasolina a 1€/litro é impossível. É provável que os preços cheguem (ou ultrapassem) os 3€/litro.
Mesmo que isso não aconteça, se um carro elétrico custar o mesmo ou menos do que um carro a combustão, por que razão pagar 7,5€ para fazer 100 km (diesel a 1,5 €/L, 5 L/100 km), quando em casa se pode carregar um elétrico por 1,90€ para fazer esses mesmos 100km?

4. O resto também é mais barato

Além do carregamento mais económico, a manutenção de um elétrico é inferior. Junta-se a isso a isenção de IUC e os apoios estatais para a redução de emissões, e o carro elétrico torna-se claramente mais vantajoso.

5. O preço dos elétricos usados está a cair

Há pouco tempo era impensável comprar um carro elétrico com boa autonomia por menos de 20.000 €. Agora, há vários modelos com 300 a 400 km de autonomia por esses valores: Tesla Model 3, Hyundai Kauai 64kWh, BMW i3 120Ah, Peugeot e-208, Opel Corsa-e, MG ZS
E se apenas precisam de 200 km diários, encontram opções por menos de 15.000 €. Um elétrico usado está, neste momento, ao nível de preço de um modelo equivalente a gasolina ou gasóleo.

6. Os ricos não gostam de esperar

O principal “inconveniente” do elétrico ainda é o tempo de carregamento. Para muitos, especialmente os mais abastados, o tempo é um luxo.
É mais cómodo pagar mais por um híbrido plug-in, suportar custos maiores de combustível, IUC e manutenção, e nunca ter de esperar por um carregamento.
Além disso, quem tem um Porsche ou um Ferrari nem nota os 200 € que custou atestar o depósito.
Na verdade, conheço cada vez mais pessoas com poder económico que optam por híbridos plug-in.

7. A eficiência também tem limitações

Um elétrico com 300 km de autonomia perde bastante em situações reais: ar condicionado ligado, velocidades acima dos 120 km/h, temperaturas frias…
Já os carros a combustão aquecem o habitáculo sem grande penalização e mantêm a autonomia mesmo a altas velocidades.
As classes mais altas não querem abdicar de conforto. Ninguém quer passar frio no inverno ou andar com o vidro aberto no verão para poupar energia.

8. Dinâmica de condução, som e estatuto

Os elétricos, por enquanto, são mais pesados, o que compromete a dinâmica de condução, apesar do centro de gravidade baixo. Os carros elétricos não são tão envolventes na condução, não fazem barulho, e neste momento são um péssimo investimento devido à sua forte desvalorização. Se há uma década ter um Tesla era sinal de estatuto, hoje essa aura desvaneceu. Os carros elétricos são como os telemóveis. Comparem um carro elétrico produzido em 2025 com um produzido em 2015... A tecnologia deu um salto enorme e isso reflete-se no seu valor. Por outro lado um carro a combustão de uma marca de prestígio pode não sofrer nenhuma desvalorização e até pode valorizar. O que acham que quem tem dinheiro prefere ter na garagem?

Conclusão

É por estas razões que acredito que os carros elétricos vão ser o carro da maioria da população, eficientes, acessíveis e adaptados à realidade de um custo de vida cada vez maior. Por muito que sejam contra elétricos e que gostem de carros a combustão (ou os venerem) a realidade é que na hora em que o orçamento do custo da mobilidade comece a pesar em relação ao custo da comida, educação, saúde, casa e férias, depressa o carro elétrico vai fazer todo o sentido e vai ser inevitável a sua adopção. 

Já as elites continuarão a procurar aquilo que o elétrico (ainda) não oferece: prazer de condução, prestígio e liberdade total. O sonho do homem comum vai passar de ter um porsche para ter qualquer coisa que o leve a todo o lado e que o faça sentir alguma emoção.





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