Acho que este blog se vai transformar em breve num compendio de histórias de horror na compra de automóveis em segunda mão. Ou sou eu que sou muito azarado, ou tenho um dom para esbarrar em carros que têm stands ou particulares menos profissionais ou sérios...
Então, fruto da minha incessante busca por automóveis porreiros a preços razoáveis, dei-me de caras com um anúncio de um stand em Leiria cujo o nome não vou dizer. Este "Stand" é no fundo um negócio de detalhe automóvel que de vez em quando também vende e compra alguns carros de carácter mais clássico ou desportivo. A razão por não dizer diretamente qual o nome do stand é porque o carro em questão estava a ser vendido em consignação e era de um particular. Aqui o mal pode não estar no vendedor, mas sim no proprietário que melhor do que ninguém, sabe aquilo que tem em mãos.
Num belo dia, decidi ir ver o carro, mostraram-me a viatura, um Triumph TR7 Cabrio e fiquei a saber que tinha inspeção, tinham sido feitas as revisões, trabalhava bem e o preço era razoável para o tipo de máquina que era. Tudo incrível.
Falei com o vendedor e disse, que estava interessado em avançar com o negócio, tinha gostado do que vi e apesar do carro não estar perfeito, pensei que podia ser um bom hobby para ir arranjando aos poucos e guardar na garagem mais um descapotável com um design arrojado e com um trabalhar épico graças aos carburadores que alimentavam o motor 2.0 de 4 cilindros.
Enquanto não se iam tratar dos papeis decidi ir saber mais coisas do carro. E com a matrícula, saquei o número de chassis. Normalmente faço isto, porque com o número de chassis conseguimos saber muitas informações sobre o carro, como por exemplo, em que fabrica foi feito, motor, caixa de velocidades, tipo de equipamento, etc. E foi justamente aqui que vi que algo não estava correto. O número de chassis quando era inserido num site para descodificar dizia que não era válido porque continha a letra Q. Na altura fiquei: "OK, desta não sabia." Mas não fiquei alarmado porque o carro era antes de 1981.
Antes de 1981, cada fabricante tinha a sua forma de fazer número de chassis. Uns tinham mais dígitos que outros, etc. Por exemplo o Triumph TR7 tem um número de chassis com 14 dígitos.
Depois de 1981 sugiram normas que todos os fabricantes tinham de cumprir. E basicamente surgiram duas regras. A primeira é que é proibido um carro ter um número de chassis que contenha as letras Q, I e O. A razão é que são letras que podem facilmente ser confundidas com números. A segunda regra é que o número de chassis tinha de ter 17 dígitos compostos por números e letras.
Depois desta informação que adquiri, fui a sites de fãs de Triumph TR7 descodificar o número de chassis e dito e feito o carro que estava interessado, tinha 16 dígitos em vez de 14 e os dois primeiros dígitos "QS" não constavam em nenhum registo de números de chassis de Triumph TR7. Mistério.
Como o carro tinha inspeção e estava tudo okay, pensei que realmente o número de chassis devia ter 16 dígitos e não 14. Talvez alguma coisa tenha acontecido quando o carro foi vendido em Portugal para ter aqueles dois dígitos extras? Se o número de chassis do carro batesse certo com o livrete, tudo bem. E devia bater certo, já que o carro passou na inspeção e uma das primeiras coisas que vêem é se o número de chassis está correcto com o livrete.
Ainda assim por via das dúvidas entrei em contacto com outro vendedor que tinha outro TR7 à venda, expliquei o que se passava e muito caridosamente o vendedor passou-me a informação de chassis do carro dele e do livrete. O número de chassis no carro tinha 14 dígitos e no livrete também. Tudo nos conformes como era suposto.
Fui a Leiria ver o carro outra vez e aquilo que eu mais temia aconteceu. O carro efectivamente tinha apenas 14 dígitos e no livrete estavam 16 dígitos, 2 dígitos a mais. Informei o vendedor, que também ficou estupefacto e desfiz o negócio na hora. Passado poucas horas o anúncio do carro foi retirado da internet.
Aqui sinceramente fiquei muito confuso sobre como é possível um carro que vai todos os anos à inspeção, ter passado sempre sem ninguém ter dado conta deste problema. Como é possível? Só vejo uma explicação que não abona nada em favor dos nossos centros de inspeções que temos em Portugal que deixam passar carros com chassis errados e já para não falar de carros que claramente não passam as emissões.
No entanto, apesar de ter avisado o vendedor e apesar de ter ficado muito incomodado com toda a situação a verdade é que o infame Triumph TR7 voltou aos anúncios da internet para ser vendido. O mais que posso fazer é alertar para que tenham cuidado com o Triumph TR7 com a matrícula IN-04-36. Se o dono realmente for sério o problema do número de chassis já deve estar resolvido, mas nunca se sabe, por isso, se por acaso se cruzarem com este carro, tenham cuidado e verifiquem o número de chassis.
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