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História do carro elétrico de 1830 até aos dias de hoje


Os carros elétricos estão em voga e neste momento são o último grito na tecnologia automóvel. Cada semana que passa é anunciado um novo carro elétrico, com mais potência, mais binário e que consegue ir mais longe. Mas a verdade é que o carro elétrico é uma tecnologia antiga... eu diria até anciã, o carro elétrico consegue ser mais antigo que o próprio carro a combustão.

Estamos no ano de 1886 e Carl Benz inventou e patenteou o primeiro carro a combustível. Uma maravilha da tecnologia na altura e por muitos e muitos anos toda a gente pensou que o primeiro carro tinha sido de facto inventado pelo Carl Benz, mas não...

O primeiro carro do mundo a ser desenvolvido foi em 1769 pelo Francês Nicolas Cugnot, era um carro movido a vapor e demorava 45 minutos a criar vapor suficiente para poder iniciar marcha que era tão rápida quanto uma pessoa a andar (3,2 km/h), para além disso o carro tinha de ser abastecido de 15 em 15 minutos com madeira. Este veículo foi encomendado pelo exército francês para mover canhões de uma forma mais rápida e autónoma, mas devido aos inúmeros problemas, acabou por ser um projeto abandonado. Mais sobre este carro aqui.

Primeiro carro do mundo era a vapor e era FWD. Motor e tração à frente.

Antes do carro a combustão ter sido mostrado ao mundo, o carro elétrico já tinha sido inventado em 1832, 54 anos mais cedo do que o carro a combustão. O inventor do carro elétrico era escocês e chamava-se Robert Anderson. O carro não era mais do que uma carroça com baterias e motor elétrico, o que era basicamente o Modus Operandi dos fabricantes e inventores de todos os automóveis que saíram na altura: carroças adaptadas com motores de combustão, caldeiras de vapor ou baterias e motores elétricos.

Apesar do carro elétrico ter chegado bastante cedo ao mundo, este era tudo menos prático, pois as baterias de células galvânicas não eram recarregáveis, então depois do carro gastar a energia, tinha-se de deitar fora as baterias e fabricar outras novas. Nesta altura este “Carro” era uma curiosidade, um truque de magia. “Vejam! Vejam! A carroça está a mover-se, no entanto, não tem cavalos a puxar! UUhhhh! Ahhh!”


Em 1841 outro escocês (Robert Davidson) produziu um protótipo de uma locomotiva elétrica maior e com mais capacidade de armazenamento de energia que conseguia puxar 6 toneladas a 6,5 km/h durante 2,5 km. Esta invenção falhou em convencer os directores da companhia de caminhos de ferro, devido a ser pouco prático por ter de se atirar fora as baterias depois de usadas, mas ainda assim, um importante passo para o desenvolvimento da mobilidade elétrica.

Em 1859 foram inventadas as primeiras baterias recarregáveis pelo francês Gaston Planté, uma descoberta importantíssima para a viabilização comercial do carro elétrico. Em 1890 outro escocês chamado William Morrison patenteou finalmente o primeiro carro elétrico. Este tinha 4 cavalos de potência, uma velocidade máxima de 32 km/h e uma autonomia de 80 km e claro, podia ser recarregado. Só para termos aqui uma comparação o Benz Motorwagen 1 (primeiro carro a combustão) tinha 0,9 cavalos de potência. O Segundo a ser construído por Carl Benz tinha 1,5 cavalos e o terceiro já tinha 2 cavalos e conseguia atingir uma velocidade máxima de 16 km/h. Ou seja, no início o carro elétrico tinha uma grande vantagem tecnológica e isso foi demonstrado em 1893 na Expo Mundial de Chicago onde a sua invenção causou bastante alarido e as pessoas estavam realmente impressionadas. Por incrível que pareça Morrison estava mais entusiasmado com as baterias e as suas possibilidades e aplicações do que propriamente o carro em si. 

Para além de ser mais rápido este elétrico também podia ter o título do primeiro monovolume devido a poder transportar confortavelmente 6 pessoas.

Em 1897 houve uma corrida entre Londres e Nova Iorque para a introdução de Taxis 100% elétricos. Londres foi a primeira com a London Electric Company que tinha um carro elétrico com 3 cavalos de potência, 40 baterias de chumbo ácido e com 80 km de autonomia. No mesmo ano Nova Iorque também recebeu taxis através da Morris & Salom Electric Carriage and Wagon Company, que mais tarde mudou o nome para Electric Vehicle Company. No início começaram com 12 Taxis e passado dois ano já tinham 62 ao serviço. A empresa prosperou e cresceu bastante, chegando a ter 1000 destes veículos em circulação. 

Curiosamente foi com um destes Taxis que foi passada a primeira multa de excesso de velocidade nos EUA. Na altura o condutor deste veículo foi apanhado a 20 km/h numa zona que só se podia andar a 12 km/h. 

Para além dos Taxis a empresa também chegou a fabricar uma versão civil chamada de Electrobat. Um carro que tinha 2 motores elétricos de 1,5 cavalos cada, tinha 40 km de autonomia e uma velocidade máxima de 32 km/h. Infelizmente em 1907 houve um incêndio que destruiu 300 Taxis e levou a empresa à falência. O resultado foi o regresso dos cavalos-taxi a Nova Iorque até chegar os Taxis com motores de combustão interna.


No início do século XX as pessoas gostavam dos carros elétricos porque eram mais fáceis de pôr a trabalhar, eram menos barulhentos, tinham menos manutenção e mais barata, não faziam poluição, nem deitavam cheiros desagradáveis e dispensavam todas as engrenagens e alavancas para meter mudanças. Era um carro mais simples e fácil de conduzir, por isso, a sua popularidade no início do século XX era tão grande que um terço de todos os carros no mundo eram elétricos (sendo os restantes carros a combustão e a vapor.)

No campo dos desportos motorizados o Belga Camille Jenatzy, construtor de carruagens elétricas que vivia perto de Paris, construiu vários carros elétricos com o objetivo de participarem em corridas e o seu feito mais interessante foi com o carro que tinha o nome de La jamais content (Nunca satisfeito) que foi o primeiro carro no mundo a ultrapassar a barreira dos 100 km/h. O carro tinha dois motores de 33 cavalos cada (66 no total) que disparavam este carro de alumínio em forma de torpedo a toda a velocidade. Outro facto interessante sobre este carro é que estava equipado com pneus Michelin.   


Foi então que surgiu o Henry Ford com o seu Model T que custava 650 dólares que era substancialmente mais barato de produzir face ao elétrico mais barato na altura que custava 1750 dólares. Foi aqui que o elétrico começou a perder popularidade e à medida que o motor a combustão foi evoluindo e a disponibilidade do combustível tornou-se cada vez maior e mais barata, a pouco e pouco as pessoas começaram a apostar mais nos carros a combustão. 


O desenvolvimento da tecnologia elétrica entrou em tempos negros sem qualquer avanço significativo, as pessoas estavam tão acostumadas ao petróleo e os carros a combustão eram tão acessíveis, que o interesse em carros elétricos só voltou a surgir nos anos 70 quando houve crise do petróleo. Infelizmente a falta de pesquisa e desenvolvimento fez com que o elétrico mais avançado da altura tivesse uma velocidade máxima de 70 km/h e a autonomia fosse de apenas 65 km, o que ficava a anos luz daquilo que os carros a combustão eram capazes de fazer. Talvez a única coisa a assinalar sobre carros elétricos nesta época foi quando a NASA abordou a Boeing e a General Motors para desenvolver um veículo que pudesse ser usado na Lua. Obviamente que a única hipótese seria um veículo elétrico. O Lunar Roving Vehicle ou LRV teve uma produção de 4 veículos para serem usados nas últimas 3 missões da Apolo (15, 16 e 17). O LRV pesava 210 kg e podia transportar uma carga de 490 kg incluíndo 2 astronautas. O carro tinha uma velocidade de 13 km/h se bem que na última missão Apolo 17 o veículo atingiu uns impressionantes 18 km/h. Estes veículos tinham uma autonomia de 92 km, mas as suas baterias não eram recarregáveis (isto devido à falta de postos de carregamento na lua para veículos elétricos). Estes 3 veículos lunares ainda hoje se encontram estacionados na Lua. Para saber todos os detalhes deste veículo espacial consultar esta página.


Vieram os anos 90 e com eles começou a ser cada vez mais evidente que não podíamos continuar a fazer tanta poluição e então alguns governos começaram a incentivar a construção de carros elétricos. Talvez o mais significativo da altura fosse o EV1 da General Motors, um carro que ficou na história pela imensa controvérsia criada quando a General Motors decidiu tirar esses carros de circulação e mandá-los para abate. O EV1 já era considerado um carro que podia acompanhar os carros a combustão, estamos a falar de uma velocidade máxima de 130 km/h, 160-230 km de autonomia e uma aceleração dos 0-100 em 9 segundos. 


A próxima grande conquista dos carros elétricos foi da introdução no mercado e massificação dos carros híbridos. O Toyota Prius foi provavelmente o carro mais importante para a disseminação da tecnologia híbrida e abriu caminho para os carros 100% elétricos. Foi preciso chegar ao ano de 2006 para que uma pequena start-up com o nome de Tesla Motor Company provasse ao mundo que era possível fazer um carro 100% elétrico que as pessoas gostassem realmente e com uma autonomia decente. O Tesla Roadster utilizava a o chassis do Lotus Elise e era um pequeno desportivo elétrico que tinha 320 km de autonomia, uma aceleração dos 0-100 km/h de 3,7 segundos e velocidade máxima (limitada) de 200 km/h. Só em 2010 é que o carro elétrico para o povo chegou com o Nissan Leaf que tinha uma bateria de 24kwh e uma autonomia de 200 km com 145 km/h de velocidade máxima e 0-100 Km/h em 12 segundos. 


Foi a partir daqui que a popularidade dos carros elétricos voltou a disparar e hoje em dia já são poucas as marcas que não tenham no seu portfólio um veículo 100% elétrico.

A história do carro elétrico é tão ou mais fascinante que a história do carro a combustão. É uma tecnologia velha que podia ter vingado no início do século XX e que durante anos e anos foi negligenciada para finalmente em pleno século XXI ter uma quarta chance, desta vez com investimento suficiente e apoio governamental para levar a tecnologia a patamares nunca antes vistos. Hoje em dia o carro elétrico de produção mais potente, o Tesla Model S Plaid tem 1033 cavalos de potência, faz dos 0-100 km/h em 2,1 segundos e pode ir até 765 km com uma carga. Apesar da controvérsia toda que a TESLA tem, não existe melhor montra tecnológica para o carro elétrico do que o Plaid e é um vislumbre de como a tecnologia elétrica poderá ser daqui a uns anos para o comum dos mortais. 


Como é de esperar o desenvolvimento do carro elétrico não acaba no Plaid, outras empresas para além da Tesla estão a desenvolver carros completamente insanos, como a RIMAC ou a Lucid Motors. É que nós estamos numa época sem igual e quiçá na melhor de sempre na história dos automóveis, pois neste momento não existem restrições, neste momento qualquer marca ou inventor pode fazer o que quiser com a tecnologia elétrica porque ninguém vai dizer não. Um carro com 3000 cv? Porque não? Com acelerações de 0-100km/h de vários G's? Porque não? É com perplexidade que vejo pessoas contra carros elétricos, pessoas que ainda não se aperceberam que tudo o que um fã de automóveis sempre quis está neste momento a acontecer com a tecnologia elétrica. Automóveis sem restrições ambientais, governamentais ou fiscais... Demorou a chegar, mas passados mais de 190 anos podemos dizer que chegámos aos tempos dourados do automobilismo e que o melhor ainda está para vir.

Para saber ainda mais sobre a história dos carros elétricos. convido a ler este artigo da Car & Driver, que é muito mais completo do que este e foi sem dúvida uma inspiração.


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