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O fim dos motores de combustão


Os automóveis estão a evoluir mais rápido do que nunca. É uma evolução forçada por dois factores: O primeiro é o próprio público. Este quer que os carros sejam smartphones gigantes, com uma data de características tecnológicas: como sistemas de infotainment cada vez mais avançados, ajudas na condução cada vez mais avançadas, updates ao software que mudam as características e comportamento dos carros, entre outros. O segundo motor é o dos governos que estão determinados a acabar com os motores a combustão.

O que é que isto significa para nós consumidores? O que podemos esperar do futuro dos automóveis e como é que os mais resistentes vão continuar a preservar os carros a combustão?

No dia 14 de Julho de 2021 foi apresentada uma proposta na União Europeia que obriga a todos os estados membros a banir a venda de veículos a combustão a partir de 2035. Para além disso a União Europeia tem também em marcha a nova norma de poluição denominada de Euro 7 que todos os veículos com motores a combustão vão ter de cumprir a partir de 2025. Esta norma é ainda mais ambiciosa que a Euro 6d (que vigora neste momento) e dizem os entendidos que provavelmente vai ser o último prego no caixão dos motores a combustão. Mesmo que seja possível encontrar uma solução no sistema de tratamento de gases de escape, essa solução será tão dispendiosa que irá colocar os carros a combustão com preços bastante similares aos carros eléctricos. Esta norma Euro 7 é tão apertada que mesmo um carro híbrido irá ter dificuldades em passar. 

Ou seja, mesmo que a União Europeia proíba a venda de carros a combustão em 2035, o mais provável é que em 2025 seja praticamente impossível comprar um carro novo a combustão. Isto é tão verdade, que já temos várias marcas a anunciar a electrificação completa da sua gama. Marcas como a Polestar e Volvo já anunciaram que vão deixar de vender carros a combustão. Outras como a Audi já disseram que vão deixar de desenvolver motores a combustão e vão focar-se nos eléctricos. Marcas de luxo e desportivas como a Alpine, Abarth, Lotus e Bugatti vão deixar de ter carros a combustão e vão passar a ter um Line-up 100% eléctrico. 


O público a pouco e pouco também está a adaptar-se ao carro eléctrico. As vendas de carros eléctricos estão a aumentar ano após ano e com os incentivos fiscais, o baixo valor de manutenção e o custo dos combustíveis, hoje em dia começa a ser bastante difícil de justificar a compra de um carro a combustão.

Seja por força do público, seja por força do governo ou por força dos próprios construtores de automóveis, o carro a combustão tem os seus dias contados e não há volta a dar. 

Se os carros a combustão vão ser substituídos por veículos eléctricos para carros que têm utilização diária, resta saber o que é que vai acontecer no futuro aos milhões de automóveis a combustão que estão ainda em circulação e principalmente aqueles que são desportivos ou de coleção. 

Olhando para o futuro, estes carros vão ser cada vez mais difícieis de manter e possivelmente irão ser banidos de circular a partir de certa idade. Eu vejo isto com o paralelismo do custo de manter um cavalo. O cavalo já foi o principal meio de transporte das pessoas e no início do século XX manter um cavalo não era muito caro. Hoje em dia ter um cavalo custa entre 400€/500€ por mês. Nos carros a combustão essa pode ser uma possibilidade. Os preços e os impostos sobre os combustíveis vão continuar a aumentar, provavelmente o estado vai inventar impostos novos a aplicar em carros a combustão para desincentivar cada vez mais o uso destes. No final vamos estar perante uma carga fiscal tão elevada nestes veículos que só nos vão restar 3 opções: Ou aguentamos, ou convertemos o automóvel para um eléctrico, ou temos de os vender ou deixá-los a apodrecer numa garagem. 

Mas e os combustíveis sintéticos que iria ser neutros em carbono? Essa pode ser a salvação para estes automóveis não serem banidos, mas não pensem que vai ser uma opção barata. Neste momento a Porsche anda a trabalhar na transformação de Dióxido de Carbono na atmosfera em combustível para os automóveis, mas o seu preço está fixado neste momento a cerca de 9€ o litro. Este processo é muito dispendioso a nível energético e é longe de ser eficiente, mas mesmo com mais desenvolvimento e melhorias da tecnologia será extremamente difícil baixar o valor de 9€ o litro. 

Aplicando alguma matemática neste custo, imaginando o caso de um MX-5 NC 2.0 de 2006 que tem um depósito de 40 litros e gasta cerca de 9 litros aos 100km. Estamos a falar de gastar 360€ para encher um depósito e um passeio de 100km iria custar cerca de 81€. Isto sem falar de impostos, manutenção, seguros, etc. Como podem ver, seria bastante difícil de justificar o preço de manter um carro destes e a conversão para eléctrico passaria a ser bastante atractiva e possivelmente um upgrade de potência bastante interessante com binário e potência muito mais elevados que o motor a combustão original. 

Por enquanto o mercado de usados, continua um tanto ao quanto inflacionado devido às disrupções na cadeia de produção de veículos novos, mas assim que aparecerem mais carros eléctricos disponíveis e assim que estas disrupções acabarem, vamos assistir a um Crash nos preços dos carros usados e poderão aparecer algumas boas oportunidades. Só que isto vai acabar por ser um presente envenenado, pois como já foi explicado neste artigo, vai ser uma questão de tempo até ser completamente incomportável ser dono de um carro a combustão. 

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