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Compreender o preço dos combustíveis



Já há muito tempo que andamos com vontade de fazer um artigo sobre este assunto, no entanto tem-se vindo a revelar um assunto demasiado complexo devido à falta de informação e à contra-informação. Tentar explicar a subida dos combustíveis e a não descida dos mesmos é um assunto bastante complexo e até já foi fruto de estudos de vários economistas.

Nós não somos economistas, apenas pessoas que gostam de carros, nós temos ouvido algumas coisas na rádio e na televisão e também lemos alguns artigos interessantes em certos blogs que também já tentaram explicar o assunto. Vamos começar por falar a nível mundial e depois falar nas peculiaridades específicas do caso português que fazem com que fiquemos doentes quando ouvimos falar do preço dos combustíveis.

Porque é que os combustíveis sobem mais do que descem?

Sabemos que o mercado dos combustíveis é um mercado livre, sabemos também que num mercado livre o preço dos combustíveis deve acompanhar as subidas e descidas dos preços dessa matéria prima. Sendo assim porque é que o petróleo quando sobe, reflecte-se logo no preço dos combustíveis? E porque é que quando desce, a descida nunca é tão grande quanto o que deveria ser? 

Segundo o economista Sam Peltzman que realizou um estudo sobre produtos que sofriam repentinas subidas de preço (Incluindo combustíveis), denominado por: Prices rise faster than they fall (Os preços sobem mais depressa do que descem). Neste estudo o próprio Sam Peltzman afirmou que esta área da economia estava muito pouco explorada (porque será?) e que os resultados do seu estudo levaram a resultados pouco conclusivos. Sam Peltzman denominou assim este fenómeno de Asymetric Price Adjustment ou Asymetric Price Transmission. Esta teoria basicamente diz-nos que o aumento dos preços faz-se sentir mais do que a descida dos mesmos. Ou seja quando o petróleo sobe, os preços sobem, quando o petróleo desce, os preços demoram muito mais tempo a descer. Uma equipa de especialistas que estudou o fenómeno calculou que uma subida de 50 cêntimos no preço dos combustíveis em 4 semanas para voltar aos valores originais antes dessa subida, podia demorar cerca de 8 semanas! Ou seja em média o dobro do tempo.

Já apresentámos muitos estudos e algumas opiniões, mas o mais interessante é o estudo de Matt Lewis que explica este fenómeno da descida dos combustíveis ser mais lenta devido aos retalhistas e à forma de pensar dos consumidores. Segundo este senhor os preços demoram mais a descer porque o consumidor quando sabe que os combustíveis estão a descer não sente a necessidade nem a urgência de ir comprar combustível. Quando os preços sobem o caso muda de figura. Pode-se verificar este fenómeno no nosso dia à dia. Quando sabemos que o combustível vai aumentar no dia seguinte, assistimos a uma romaria às bombas de combustível, são filas e filas de pessoas que querem encher o depósito com a gasolina/gasóleo a um preço mais barato. Quando se verifica o contrário, nunca existem filas. Ora os retalhistas sabem que quando o preço do combustível aumenta muitas mais pessoas vão encher os depósitos, ou seja a sua facturação é maior nesses dias, quando se verifica o contrário, a sua facturação é muito menor e então mais vale deixar os preços altos do que aquilo que estão para compensar a falta de procura. Matt Lewis também chegou à conclusão que os retalhistas de combustível tinham margens muito mais pequenas quando os preços aumentam e quando o petróleo descia de preço as suas margens alargavam para compensar a descida de procura. 
Como se pode verificar por este gráfico quando existem picos de subida do preço do combustível as margens dos retalhistas são menores, mas quando o petróleo desce de preço a sua margem é aumenta bastante, ou seja os preços nunca descem aquilo que deviam descer.
Então e a concorrência? Estivemos a falar até agora do fenómeno estudado nos USA que ao contrário de Portugal não tem apenas uma refinaria (GALP) a produzir combustível. No entanto Matt Lewis detectou que os preços acabam por ser mais ou menos a mesma coisa nos diferentes postos de gasolina (tal como se verifica aqui em Portugal). Uma gasolineira pode fazer uma promoção de 10 cêntimos, as outras para não ficar atrás fazem também, até alguém meter a gasolina outra vez ao preço normal e as outras gasolineiras sobem-no também. A meu ver, se existir uma consertação de preços de combustível, essa existirá nos ditos "mercados" que esses sim decidem o preço do combustível.

Portanto o grande mal do preço dos combustíveis são os retalhistas que não acompanham a descida dos preços como deve ser e dos mercados que são altamente especulativos e que entram em histeria sempre que acontece alguma coisa no nosso mundo. 

Então e Portugal?

Em Portugal a coisa ainda é pior pois inexplicavelmente pagamos muito mais pelos combustíveis que a maioria dos países europeus. Porquê? Por causa do ISP e do IVA que são estupidamente altos. Não fossem a diferença dos impostos e teríamos combustíveis tão baratos como os nossos amigos espanhóis. No entanto é sabido que em Portugal um dos grandes sacrificados são os automobilistas, que pagam impostos para estradas mas depois ainda têm de pagar para andar em SCUTS, em Auto-Estradas e em Pontes. Pagam imposto sobre imposto quando vão comprar carro novo estrangulando um sector que é bastante importante para a economia do país e no final ainda pagamos impostos brutais sobre o preço dos combustíveis.

Lemos um artigo muito interessante sobre o assunto concreto em Portugal sobre esta injustiça nos preços no blog Praça do Bocage onde o Demétrio Alves demonstra com vários gráficos a alarvidade que a classe política anda a fazer aos automobilistas portugueses que precisam do carro para ir trabalhar e gerar riqueza para este país. Quando é que vamos ter uma força política que olhe para estes dados e diga basta? 

Portanto resumindo e concluindo os preços dos combustíveis elevados os grandes culpados são:
1. Os mercados histéricos.
2. O Governo Português.
3. E muito em breve o FMI.

Os culpados pela descida dos combustíveis serem tão poucas e as subidas tantas:
1. Os retalhistas.


Existirá alguma esperança? 

Infelizmente não. Nos mercados internacionais ninguém pode mexer, embora devesse de existir um organismo que os regulasse e que desse uma dose de bom senso para controlar os ataques de histeria que os meninos engravatados dos mercados das matérias primas têm. 

Quanto ao Governo Português e ao FMI as coisas só tendem a piorar, enquanto a crise não ficar resolvida.

Quanto aos retalhistas, não podemos também fazer nada até que entrem no mercado retalhistas mais sérios e agressivos no que toca ao preço que praticam para obrigar os outros a baixar o preço quando o preço da matéria prima baixe.


Esperamos que este artigo e os seus links tenham servido para explicar estes fenómenos todos que assolam o preço dos combustíveis e que assolam as nossas carteiras e as nossas contas ao fim do mês. Ainda podem ficar com este artigo do blog Jalopnik que serviu de inspiração para a pesquisa e desenvolvimento deste artigo. :)

Comentários

Rita disse…
Olá!
Gostei do artigo! Não gosto das políticas que nos fazem pagar balúrdios pelo combustível necessário para podermos ir trabalhar. Se os nossos pseudo políticos pagassem, como nós, a gasolina e, já agora, as viaturas em que se deslocam, talvez outro "galo cantasse"! Assim, paga "Zé" e cara alegre, pois já tens sorte em ter trabalhinho (há muitos que queriam e não têm)!
Bj
Mena
Anónimo disse…
Muito bom este post :)
Já fiz esta pergunta tantas vezes sem nunca encontrar a resposta. Fazem todo o sentido os argumentos que utilizas-te. Mais uma vez se comprova que a nossa actual sociedade não funciona (You know what I think!)

Beijinhos,
Vió
Parece ser um blogue que vou seguir....olha já agora alguém me sabe dizer se o Ford Ka de 1997 é um carro fiável ou se tem algum defeito generalizado? Gasta muito?
We Like Cars disse…
Olá Miguel! Graças ao teu comment deste uma boa ideia para uma nova rubrica para este blog. Vê aqui: http://welikecars.blogspot.pt/2012/12/usados-escrutinados-ford-ka.html

Obrigado!

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